domingo, 17 de novembro de 2013

As reações contra o dia da Consciência Negra


Essa semana, em uma rede social, vi esta foto e chamou muito a minha atenção:


 (Desconheço o autor, se caso alguém saiba, informe-me que dou o crédito)


     Não tenho dúvida de que quem elaborou tal texto está repleto de preconceito, desinformação histórica e desconhecimento da luta do Movimento Negro Brasileiro. Mas me pergunto: por que o dia da consciência negra?
Primeiro vamos dar o crédito a Steve Bantu Biko (1946 - 1977) que foi um pensador negro sul-africano e ativista do movimento anti-apartheid na África do Sul, nos anos 60 do século passado. Ele reivindica e conclama os negros a ter consciência de sua origem e situação social para, assim, efetivar uma luta por justiça e igualdade. Obviamente não nos esqueçamos que, antes dele e junto com  ele, houve muitas mulheres e homens que já lutavam por isso nos movimentos sociais e culturais, como, por exemplo,  o Renascimento do Harlem, O Movimento Negritude, a Frente Negra Brasileira, entre tantos outros.
No Brasil, nossa luta tem um símbolo, o poema de Oliveira Silveira:
Encontrei minhas origens
Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
                livros
encontrei
em malditos objetos
troncos  e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
               cantos
em furiosos tambores
               ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei.
Quando o negro ou a negra tomam consciência disso, como aconteceu comigo, começa a ver que todo o tempo foi educado para repudiar qualquer coisa que viesse de África (informo que uso de África porque me soa mais bonito). Não vou relatar aqui minha experiência pessoal, deixarei para outro espaço. O que quero reafirmar é que em homenagem a Zumbi dos Palmares, que morreu em 20 de novembro de 1695, o Movimento Negro Brasileiro propôs esta data como dia de luta, de afirmação indenitária, de reivindicação social, de reparação histórica, pois fomos vítimas de uma maldade sem precedentes no solo brasileiro. Não aceitamos comemorar o 13 de maio como a libertação da escravidão pela princesa Isabel. Tomamos consciência de nossa negritude e lutamos para mudar a situação de injustiça, porque encontramos nossas origens. 
Celebrar o dia da Consciência Negra é refletir o racismo brasileiro velado e dissimulado como na foto acima. É pensar sobre que papel, na sociedade, têm o negro e a negra brasileiros. Como é representado o negro no Brasil de hoje? A negra brasileira está alocada em que situação nas estatísticas sobre a violência contra a mulher? O jovem brasileiro negro ou negra têm oportunidades? Quais são? E o genocídio dos jovens negros no Brasil? E o racismo que lemos e vemos nos jornais? Tudo isso pode e deve ser refletido em casa, na escola, no bar, na praça, nos lugares de culto religiosos, enfim, em toda a sociedade.
Por fim, sem sombra dúvida, creio que foi, no mínimo, infeliz a ideia da pessoa que escreveu tal frase, como vimos na foto exibida acima. Precisamos sim, de consciência negra, de saber sobre nossas origens, de conhecer os ritos de nossos antepassados. Tudo isso é nossa história e nós aqui seguimos reescrevendo-a.
Para todos e todas desejo um 20 de novembro cheio de AXÉ!


17/11/2013

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