domingo, 26 de maio de 2013

El guardián de flores


I

Dame tus manos Alicia
Ven conmigo y te muestro mi corazón
Soy negro como la noche arriba de las montañas
Y en mí cuerpo reguarda un fuego
Ven, no te detengas, lo haré tranquilamente
Te desnudaré sin prisa
Cierra los ojos cariño,
Sienta mi mano en tu cuerpo
Disfrutemos de este momento, mi dulce amor
Hagamos como las ovejas
No nos preocupemos con  mañana
El amanecer es el despertar de otras verdades
Caminemos
Salgamos
No nos importará lo que piensan los envidiosos
Sos mi flor
Soy tu pastor, tu guardián
Cuidemos de nuestro rebaño
De lanas puras te haré un poncho
Cocinaré las mejores carnes sudadas
Te velaré, cariño
En nuestro campo sólo tendremos la paz y el gozo

Ven conmigo, vivamos en este campito de flores y mariposas.

sábado, 25 de maio de 2013

Vamos ver o mar


Vamos ver o mar


- Vamos, Fernando, vamos dar uma volta de barco.
- Agora? Eu tenho que terminar esse trabalho de química, meu sol.
- Oras, santa paciência, Nando, vamos logo. Você sempre aí com suas coisas. É livro para lá, caderno para cá e eu aqui sempre te esperando.
- Ai, ai , seu Hélio, você e suas crises de ciúmes.
- Não, não senhor. Quero apenas ficar um pouco com você, posso?
- Claro, meu nego. O quanto você quiser. Veja, termino esse parágrafo e já saio, tudo bem?
- Sim, enquanto você termina, eu vou ligando o motor do barco.
- Sim, senhor capitão.
- Palhaço!
O cotidiano de Fernando e Hélio era dividido por afazeres – Hélio cuidava da casa – e cabia a Fernando dedicar-se à pousada em Guarajuba. Não havia brigas, mas os ciúmes de Hélio apimentavam a relação. Os conflitos aumentavam quando Fernando passava os domingos em estudo, leitura e análises de animais marinhos, sua paixão.
O cotidiano às vezes mudava. Nesse dia havia o passeio de barco que raramente os dois faziam. Talvez pudesse ser uma oportunidade, uma forma dos dois estarem mais juntos. É necessário jogar-se ao mar para descubrir-se.
- Fernando, me diga uma coisa.
- Sim, se quiser duas…
- O que você pensa em fazer quando terminar a universidade?
- Ah – respondeu com ar de surpresa – ainda não sei Hélio. Talvez uma especialização em oceanografia. Gosto muito do mar, você sabe.
- Sei e isso me espanta.
O sorriso brotou no rosto de Fernando e Hélio sabia que a paixão pela biologia e pelo mar eram notáveis em seu companheiro.
- Veja, Nando, tenho que lhe confessar. Estou cansado de tudo.
- De tudo? De tudo o quê? – Enquanto Hélio guiava o barco, Fernando o abraçou por trás e as quatro mãos guiavam juntas o timão. E recostado no ombro de Hélio, Fernando perguntou: - cansado de mim, meu amado?
- Também – secamente respondeu Hélio – sempre estou ao seu lado, mas às vezes é como se eu não estivesse. Você me olha e sinto como que sou um fantasma. Como se eu fosse invisível.
- Ora, meu querido, não fale assim. Não é verdade. Reconheço que algumas vezes sou displicente, mas, meu anjo, vou terminar o curso e me dedicarei a você.
- Não, Fernando, você seguirá seu caminho. Talvez encontre alguém a sua altura, né? Eu um reles pescador. Nascido e criado nessa praia. Acostumado a fazer redes, pescar, vender peixes na peixaria de meu pai. Não tenho vocação para estudo. Não sirvo para estar ao seu lado.
- Não é isso, meu querido, você é o homem mais inteligente que conheci. Veja esse mar. Você o domina. Você é filho dele. Tudo em sua vida, amado Hélio, é força, vitalidade. Às vezes tão intempestivo como o mar.
- Mas não tenho sua atenção. Queria ser um daqueles corais que você estuda todos os dias.
- Você é mais que eles, meu Deus iluminado. Sua existência me faz feliz.
- Queria acreditar, Nando… Vamos nadar. Vamos até aquele atol, lembra? Ficávamos ali até a maré encher. Depois subíamos no barco e observávamos as águas cobrirem, aos poucos, o minúsculo atol.
- Sim, eu lembro, vamos…
Os dois desceram e nadaram até o atol onde abraços e carícias se mesclavam em mergulhos juntos a cardumes coloridos. Às vezes se deitavam, no atol, de braços abertos e cabeças encostadas, eram como uma grande estrela do mar.
- Nando, me promete uma coisa?
- Se eu puder, Hélio, sim, prometo. Diga.
- Deixa tudo e se dedica a mim.
O sorriso espantoso tomou a face de Fernando.
- Como?! Não posso, meu filho do mar. Você sabe que é um projeto de vida. Vamos usar minha formação para fazer da nossa pousada um espaço para o ecoturismo, por favor, Hélio, não me peça isso.
- Entendo. Seus planos são sempre prioridades para você.
- Ai, meu querido sol, como é difícil você entender, não?
- Você, Nando, que é…
- É… diga, vamos…
- Esquece. Vou no barco pegar uma coisa e volto.
- Sim, espero. E esfria a cabeça.
Helio saiu em direção ao barco como quem não voltava e Fernando gritou:
- Hei, meu amor, você pode trazer o filtro solar. Hei, veja, te amo.
O sorriso de Hélio pareceu um sim, uma cumplicidade que Fernando esperava que seu amado pudesse ter, mas foi engano. O barulho do motor do barco indicava a partida sem retorno e sem rumo. Fernando alça a voz:
- Hélio, o que você está fazendo?
O barco se afastava pouco a pouco do atol e o ponto vermelho-amarelo dos corais se via mais distante. Hélio e o barco desapareciam lentamente na linha do horizonte. Fernando sentado via entre as lágrimas o esvanecer da fumaça desprendida do motor… o pôr-do-sol foi solitário naquele dia.

Medellín 20 de maio de 2013.



sábado, 18 de maio de 2013

Sobre exploração ou esse Brasil que precisa acordar


Sobre exploração ou esse Brasil que precisa acordar



Essa semana, na aula do doutorado, o professor, ao fazer uma crítica a um fragmento do  livro de Georges Bataille – “O Erotismo”, afirmou: “O tema desse texto é que o excesso de trabalho prejudica o desempenho sexual do ser humano. O autor escreveu o livro em sua época com este pensamento. Hoje quem afirmaria isso?. Quem atacaria o capitalismo dessa forma?. Ele foi intensamente ideológico”

Essa afirmação me incomodou até porque ainda hoje não há diferença. É perceptível a  exploração do homem pelo homem. Do endeusamento do capital em detrimento da dignidade humana. As estruturas do capital e da burguesia se valem de uma lógica: “A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação de riquezas nas mãos de particulares, a formação e o crescimento do capital a condição de existência do capital é o trabalho assalariado” (Karl Marx e Frederico Engels, O manifesto comunista, p.27).

A exploração do trabalhador; as horas excessivas de trabalho; ou a falta dele por conta de um sistema brutal que exclui e marginaliza o humano não podem ser reduzidas a uma ideia de que estamos na “pós-modernidade” e não existe mais a luta de classe. Pode-se ver que o trabalho escraviza as pessoas, pois a exploração do trabalhador enriquece o patrão.

Muito oportuno é o filme “Quanto vale ou é por quilo” (em http://www.youtube.com/watch?v=fZhaZdCqrHg). Ao assistir a este filme, você pode refletir sobre um Brasil que no seu histórico está a exploração e apropriação da máquina do Estado para legitimar uma classe dominante. O povo, sobretudo, o negro sempre foi vítima deste sistema, quando não como escravo o é como bucha de canhão para “matar” o seu igual.

Como não pensar nisso? É a realidade que nos cerca. Não é possível estarmos nos gabinetes de estudo, nas bibliotecas enquanto o país se deteriora. É necessário refletir nosso entorno, reorganizá-lo. Pensar que não tem jeito é muito mais cômodo e fácil, pois esse é o discurso a classe dominante introjetou em nós para que suas ações dominantes não sejam questionadas.

Citação:
Marx, K. & Engels, F. O manifesto comunista. Versão www.jahr.org

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um outro cânone


Um outro cânone

Dado um modelo de arte. Desse modelo se formará uma tradição. Dessa tradição só será permitida autores e obras estabelecida por um cânone. É aqui que começa a exclusão. Somos uma civilização forjada pela tradição greco-romana.
Esse tal cânone literário – formado por um ideário do homem, branco, ocidental – é a máxima expressão da negação do outro.
É preciso outra via. Eu já sei. Eu já a conheço.
Sou a favor de griotismo literário. Essas poucas regras ocidentais não dão conta de minha história. Sou herdeiro de África. Trago a voz de meus antepassados. Sou neto de Griots e filho de contadores de história do sertão brasileiro.
Impossível não desconstruir os pilares de uma teoria da literatura que exclui. Quero a negralização das letras. Sou irmão de luta de uma literatura indígena, a verdadeiramente autóctone.
Se isso é utópico, comungo com Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo (sic) dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.
Assim sigo esse caminho, assim refaço o que tentam tirar de nós.