Deixo o espaço cômodo da escrita da tese para vir aqui. Queria somente
levantar algumas questões e depois debater, construir outros caminhos que nos
levem a entender as (des) razões da vida. Esta semana, como todas, foi de
intensas notícias, de chocantes revelações. Cito dois casos para que encurtemos
a conversa.
Li e vi pela internet — canal que me ajuda a saber as notícias do meu
Brasil distante — o assassinato de um zelador pelas mãos, quem sabe criativas,
de um publicitário. E a outra, não menos horripilante, foi a ordem de um médico
e seu filho, com a mesma profissão, para matar um colega de trabalho, quer dizer, outro
médico. Mas o que tem em comum estes dois eventos? Creio que, além dos
envolvidos serem de classe média, passaram pelas cadeiras das melhores escolas
de Ensino Básico e, quiçá, das melhores Universidades. Eis o que me chama atenção.
Não quero perder o foco da luta diária contra o extermínio da juventude negra e
nem esquecer que na periferia de minha cidade Camaçari, minha capital Salvador
e a querida Feira de Santana onde escolhi viver, morrem dezenas de jovens,
negros e pobres. Muitos jamais tiveram a oportunidade de sair da sua miserável condição
social.
Mas quando vejo, crimes bárbaros —
para mim, todo crime é crime, mas existem alguns que são simplesmente atrozes —
penso que aqueles que os cometem,
geralmente, tem maior nível de educação. Talvez fosse relevante que os
pesquisadores de Ciências Sociais e Educação fizessem uma pesquisa neste
sentido de relação crime/instrução. Como vamos melhorar a sociedade? Qual o
papel da educação neste tema? Onde
falhamos e o que precisa melhorar?
Quando elucubro sobre isso, me lembro do texto do Professor Hamilton Werneck que li em 1995,
quando ainda era um normalista:
" Prezados professores,
Sou sobrevivente de um campo de concentração.
Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver:
Câmaras de gás construídas por engenheiros
FORMADOS;
Crianças envenenadas por médicos DIPLOMADOS;
Recém-nascidos mortos por enfermeiras
TREINADAS;
Mulheres e bebês fuzilados e queimados por
graduados em COLÉGIOS E UNIVERSIDADES.
Assim, tenho minhas dúvidas a respeito da
Educação. Meu pedido é este: ajudem seus alunos a tornarem-se humanos. Seus
esforços nunca deverão produzir monstros treinados.
Aprender a ler, a escrever, aprender aritmética
só são importantes quando servem para fazer nossos jovens mais humanos."
(Prof.
Hamilton Werneck. Se você finge que
ensina, eu finjo que aprendo , Editora Vozes.)
O que leva uma pessoa “formada” por bons centros académicos
a cometer tamanha violência contra o seu semelhante? O que devemos fazer, agora
pergunto a nós professores, para diminuir essa visão de que “eu posso matar o
outro”? Perguntas, perguntas. São as inquietações de um cabra que pensa que a
humanidade ainda tem jeito. Se não a mudamos, podemos ao menos fazê-la mais
reflexiva. Há tanto o que fazer e eu nunca me esqueço do mestre Paulo Freire e
sua proposta de uma educação mais humana.